terça-feira, junho 21, 2011

Caminhos (1/2)

Andei com receio de ler alguns blogs que me fazem pensar. Por quê? Porque eu já vinha pensando demais em um monte de coisas. Mas, vi mais um link no facebook e não resisti. Fui lá ler. E?? Bom, aqui estou tentada a escrever tudo que andei pensando.
É verdade que muita coisa eu já digeri; outras eu nem engoli e cuspi; e outras exponho aqui.
Tive muita muita muita vontade de chorar... e chorei. Pelos mais diferentes motivos.
Nos últimos dias de maio e nos primeiros dias de junho, eu senti uma paz interior tão grande, era tão forte a presença do Espírito Santo que eu chorei. No dia 04 de junho, trabalhando em um encontro de jovens católicos, eu senti novamente, mas de uma maneira tão intensa que chorei compulsivamente. Era uma sensação de amor muito grande. Uma energia que me envolvia que eu não sei explicar... só lembro que senti essa mesma energia, nessa mesma intensidade, quando eu tinha 15 anos. E a mesma necessidade de repassar isso a outras pessoas... de abraça-las bem forte, de sorrir, de dizer alguma coisa, de ao menos apertar a mão... não sei... mas é algo que não pode ficar só dentro de mim.
É... é por essa e outras que minha mãe diz que eu já nasci uma “criança-madura”, não que eu não brincasse (sou uma moleca até hoje), mas porque eu nunca consegui ser uma pessoa indiferente.
Eu sempre tive uma atenção muito especial ao idosos. Um respeito imenso. Eu nunca souber explicar o porquê.
Lembro do cheiro de rosas da minha bisavó paterna, que faleceu quando eu tinha 9 anos (mas eu insisti em ir me despedir dela. Ainda ainda tinha o cheirinho de rosa... aquela rosa francesa grandona – que eu nunca acho um canto para comprar em Natal). De como eu tentava me comunicar escrevendo para minha tia-bisavó paterna que tinha perdido a audição... De como eu sinto a presença do meu avô paterno sem nunca tê-lo conhecido (mas sou fisicamente muito parecida com ele). De como sinto o cheiro do cachimbo da minha avó materna (do qual eu me acabava de alergia, mas hoje faz tanta falta...). Das palavras sábias e cheias de graça do meu tio-bisavô materno, falecido em 2009.
Outro dia me peguei pensativa por causa do meu avô materno e da minha avó paterna... Um pensamento que se misturava a minha nova condição de “concurseira”, que se misturava ao que eu tinha lido nos blogs do “Garoto Bacana” e no de “Duda?”, que se misturava a situações que eu tinha vivido, que se misturava com a minha fé e com o abalo que ela sofreu em abril de 2009, que só vim a terminar de reestrutura-la com textos desses dois blogs e com a volta da Pastoral dos Adolescentes (depois de 8 anos inativa). Nada é por acaso.
Ah! Quer saber por que eu estive pensativa??
Vamos começar...
Eu já fui do Conselho Municipal do Idoso em Natal (de março de 2007 a junho de 2009), pelo assento da OAB/RN e aprendi muito, muito mesmo! Ajudei a fiscalizar as ILPI's (como se chama atualmente os antigos abrigos), orientei em algumas questões jurídicas, mas, acima de tudo, percebi voltados a mim alguns olhinhos que eu nunca vou esquecer... não há como descrever... e não há como não me emocionar novamente... agora... (não sei como continuar a escrever, mas eu não posso parar, eu preciso dizer... expressar).
(Meu Deus, ou Abba de Duda, eu prometo nunca mais dizer que o meu tempo na advocacia foi perdido. Eu ganhei experiência junto a OAB/RN que me removem profundamente por dentro, mesmo quando eu estava nas terças-feiras pela manhã como, novamente, representante da OAB/RN no Tribunal Administrativo de Tributos Municipais ou, “espontaneamente”, como defensora dativa no Tribunal de Ética da OAB/RN).
Voltando...
Uma vez no Instituto Juvino Barreto (ILPI em Natal), uma freira bem idosa me perguntou toda alegre se eu conhecia os pais dela, a irmã caçula dela, também freira e idosa, de pronto tentou me explicar baixinho que a irmã sofria do Mal de Alzheimer. Lembro que sorri e de dizer que não os conhecia, mas que um dia poderia conhecê-los (aprendi que não podemos ir contra as boas lembranças que o Alzheimer pode trazer à tona). Porém, em algum dos dias que estive por lá, um encontro ajudou ainda mais a mudar os rumos da minha vida: encontrei uma advogada por lá, uma senhora que foi bem conhecida em Natal, que falava uns quatro idiomas, ganhou muito bem como advogada, tinha uma bela casa (que por ela já não estava ocupada), mas não tinha constituído família. Ao que parece só lhe restava um sobrinho. No alto de sua senilidade, ela misturava os idiomas: os seus preferidos era o francês e o espanhol. Olhei aquela mulher... tão culta, mas no fim da vida, tão esquecida.
Mas o que isso tem a ver como meus avós? Calma, eu chego lá... em algum lugar vou conseguir reunir de novo os pontos da história.
Observando essa advogada, eu comecei a perceber que eu estava me dedicando muito a minha profissão. Trabalhava muito, muito mesmo. Ainda me desdobrava para conseguir a essas atividades paralelas da OAB... e, de repente parei, pensei: aonde eu estou querendo ir? Já não tinha tempo para priorizar uma academia, meu rosto estava ficando sofrido, mal cuidado, bem diferente de quando eu havia terminado a faculdade. E minha família? Meus pais? Meus irmãos? Só os via mesmo no horário do jantar e nos finais de semana. Ainda precisava me equilibrar para ver meu namorado (que mega reclamava da minha correria – bom, preciso dizer que sempre acho que os homens não conseguem entender quando uma mulher é mais ocupada do que eles), minhas afilhadas que nasceram nesse meio tempo (que para puder passar um tempo com elas, ligava para minha prima dizendo que esquentasse os resto do almoço que eu estava passando por lá, às 15h – almoçava e dava a mamadeira de uma das gêmeas – e depois ia embora, feliz da vida por causa de alguns minutos de paz) e meu amigos... tenho até hoje os verdadeiros amigos, que nunca me esqueceram, mesmo diante de minha ausência.
Comecei a pensar em mudar, em trocar de profissão. A advocacia privada é um sacerdócio, comecei a achar que não tinha vocação, por vários motivos (alguns deles escritos nessas muitas linhas), porém eu não conseguia uma brecha para me dedicar aos estudos. É... aprendi a duras penas que tudo é uma questão de querer priorizar. Como? Deus foi enfático comigo e eu demorei a entender.
Como eu vinha pensando muito em mudar de profissão e também porque vivia adoecendo, resolvi ir a uma missa de cura na paróquia vizinha, celebrada por Pe. Nunes, acordei às 4h da manhã, com o barulho que fiz, meu pai acordou também e disse que ia, como havia dito no dia anterior. Fomos nós dois, logo cedo, pois a missa era em dia de semana, salvo engano uma quarta-feira, e começava às 05h. Fomos no meu carro. A missa de cura era linda e envolvente.
Quando terminou, deixei meu pai em casa, tomei café rapidinho e fui ao oftalmologista, pois iria fazer uma consulta e aproveitar e tirar uma dúvidas sobre uma ação que eu precisava elaborar a tese (ou eu precisava elaborar a tese e marquei uma consulta? De fato, não há como negar, dedicação total a advocacia). Lá estava eu me consultando com Dr. Cyro Bezerra com alguns documentos na mão (sem enxergar mais nada do que estava escrito nos gráficos – mas eu já tinha decorado os locais das minhas dúvidas). Tudo certo... ou não? Quando eu percebi que tinha esquecido os óculos escuros e eu, que já tenho fotofobia, não conseguiria ver nada na claridade que estava lá fora, liguei para o meu pai e pedi para ele me buscar no carro dele, que depois eu dava um jeito de pegar o meu carro. Meu pai, minha mãe e meus irmãos são anjos em minha vida, de modo que meu pai disse que daria um jeito e iria.
Ele foi, mas não chegou onde eu estava. Não conseguimos mais nos falar... eu não conseguia entender o que ele dizia ao telefone... achei que era falha na ligação. Tentei mais uma vez... e chegou a minha vez de entrar para a consulta.
Quando saí, um bom tempo depois de ter tirado todas as minhas dúvidas para a ação, eu liguei novamente para o meu pai e quem atendeu foi minha mãe. Eu cegueta e desorientada, só entendi que painho havia passado mal quando havia chegado na rua do oftalmologista, mas que estava bem e que eu fosse para casa.
Só posso dizer que demorei o dobro do tempo e que vim me guiando pelo meio fio da ruas, pois o asfalto era um espelho com reflexos do sol às minhas pupilas dilatadas.
Quando cheguei em casa entendi porque não conseguia entender o que meu pai dizia: ele estava se engasgando com o próprio sangue que jorrava de uma artéria rompida pouco acima do canal do nariz. Quando eu olhei a roupa ensaguentada, pensei: “eu e meu pai fomos à missa de cura hoje de manhã e o Senhor faz isso com meu pai?”
Chorei muito debaixo do chuveiro, pois, pela 1ª vez na minha vida eu estava verdadeiramente brigando com Deus.
Ah! E vocês acham que parou por aí?? Deixe-me dizer... parou não!!
Eu fiquei profundamente chateada, mas, sabe aquela história que nem sempre nos é possível entender os escritos divinos, pois a folha que Deus escreve é tão grande para nós que não conseguimos visualizar todo o percurso (Duda descreve muito bem isso: http://eduardachacon.blogspot.com/2011/05/um-recado-de-deus.html).
Comecei a ter uma pista que aquilo era uma cura quando uma médica disse ao meu pai: “o senhor é um felizardo mesmo, porque se essa veia – até então pensava-se que era uma veia rompida – tivesse se rompido no cérebro, pela intensidade do sangue expelido, seu cérebro teria ficado boiando”. Sim, mas porque não parou??
Passamos duas semanas correndo com meu pai para o hospital... foram duas semanas em que eu parecia um zumbi. Toda vez que a pressão do meu pai subia, ele começava a sangrar novamente. Ou começava a sangrar novamente e a pressão subia (e muito!). Se já não bastasse, a pressão arterial da minha mãe subia junto, pois a dela é emocional. Houve madrugada que a cada 30 ou 40 minutos eu ia lá medir a pressão dele, estava tão cansada que já não conseguia acordar sozinha. Um dos meus irmãos acordava no horário correto e me acordava para eu poder ir lá medir. E, quando pensávamos que tudo estava se controlando, lá meu pai começava a sangrar novamente.
Já estávamos indo ao hospital não sei por que vez, quando eu disse ao médico que meu pai só sairia de lá quando alguém arranjasse uma solução, pois bem, o único que arranjou a solução foi Dr. Felipe de Sá, cardiologista, com Dra. Clara Calhau, Otorrinolaringologista, que resolveram por uma pequena cirurgia e só assim descobriram que era uma artéria que estava rompida, por isso jorrava de forma mais intensa e os medicamentos não conseguiam estancar o sangramento.
Só consegui entender verdadeiramente a seriedade do que poderia ter ocorrido com o meu pai ao ler o blog de um amigo (http://garotosbacanas.blogspot.com/2011/05/quando-eu-parei-de-discutir-com-deus.html). Eu demorei muito tempo para entender que a artéria rompida perto do nariz era, na verdade, uma cura, pois o que foi um chato sangramento poderia ter sido um grave AVC.
Mas o que isso tem a ver com os velhinhos?
Meus pais vêem seus pais todos os dias. Não moramos na mesma casa dos meus avós, mas todos os dias meus pais visitam seus pais que ainda estão vivos. A presença da família é algo muito forte.
Quando meu pai passou essas duas semanas doente, foi um “rebuliço”, porque eu e meus irmãos tivemos, além de cuidar de painho, ter que nos revesar com nossos tios paternos para “despistar” vovó do que estava acontecendo com meu pai, para que ela, que sofre do Mal de Alzheimer (em um estado estabilizado por causa dos tratamentos) não sofresse nenhuma piora.
Ah! Perceberam que eu passei duas semanas sem trabalhar direito e mesmo assim o mundo não deixou de rodar? Os processos não deixaram de andar? Os meus colegas advogados trabalharam muito bem sem mim... ao final, dessa duas semanas, que culminaram com o dia do meu aniversário em 2009, eu já me sentia mais livre. Ganhei a consciência de que o mundo não vai parar de girar se eu puxar o freio de mão da minha vida. Freei. Escolhi. Tracei novos caminhos.

*Termino esse texto por aqui... mas esse não é o fim, pois de 2009 a 2011, muita coisa aconteceu. Ainda vou continuar o texto falando de algumas coisas que aprendi com os idosos e como fiquei indignada com o fato de ter sido retirado, pelo bem da saúde psico-física, o direito da minha avó e do meu avô optarem por se despedir ou não de seus respectivos grandes amigos da juventude.

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